Autogestão, Integralidade e Propósito Evolutivo
Há alguns anos foi lançado um livro muito importante, chamado “Reinventando as Organizações” do Frederic Laloux. Ele pesquisou organizações que trabalham num nível de consciência mais amplo, que ele chamou de nível Evolutivo.
Ao pesquisar essas 12 organizações ele percebeu que, apesar de elas estarem em países diferentes e de seus líderes não se conhecerem entre si, elas têm muitas práticas similares que as diferencia das milhares de outras organizações que atuam em outros níveis de consciência. Essas práticas se referem a 3 aspectos essenciais que são comuns nessas organizações: Autogestão, Integralidade e Propósito Evolutivo.
Um primeiro aprendizado importante desse livro é sobre a Autogestão. Autogestão implica em confiança, autonomia e responsabilidade. Tudo que se realiza numa organização se dá a partir dos indivíduos. Todo impulso novo só toma forma na vida de uma organização, a partir da atuação individual livre, na realização do trabalho de cada um. Quanto mais conseguirmos distribuir autoridade até o nível do indivíduo, com base na confiança, mais efetivo será o trabalho.
Ao invés da ideia de que todos precisamos decidir tudo juntos, partimos do princípio de que confiamos na competência dos profissionais para tomarem as melhores decisões na hora em que elas se tornarem necessárias. Para isso, é importante criarmos estruturas de acordos no grupo, que deem suporte a autonomia (liberdade com responsabilidade) na atuação profissional.
Outro aprendizado do livro é com relação às práticas de Integralidade, no sentido de cada indivíduo poder expressar sua individualidade livremente e ser respeitado por isso. Quando a organização cria momentos onde cada um pode se expor em suas vulnerabilidades, surge no grupo um sentimento de colaboração mútua, de que estamos todos no mesmo barco, somos todos seres humanos com virtudes e dificuldades, e quanto mais nos ajudarmos mutuamente, melhor será para todos nós. Podemos ajudar assim a cada um alcançar o seu pleno potencial, o que faz com que o grupo também alavanque as suas possibilidades.
E o terceiro aprendizado do livro é sobre a busca por um Propósito Evolutivo, no sentido de estarem todos alinhados a um mesmo propósito. É importante aqui também criar momentos onde o grupo se junta para “escutar” o propósito da organização, ou seja, elevar a consciência para perceber a organização como um ser próprio, imbuído de um propósito social. Nesses momentos, o grupo pode se fazer as perguntas “O que queremos realizar no mundo? Qual o real propósito da nossa empresa?”, não de forma retórica, mas numa verdadeira busca de escuta.
Dessa maneira, a organização passa atuar a partir de um novo paradigma. Ao invés do paradigma do comando e controle, passa para o paradigma do perceber e responder. Se todos na organização se sentem imbuídos de um mesmo propósito, se existe um espírito de colaboração no grupo e se cada um tem autonomia para atuar a partir de suas competências, a organização está apta a responder às demandas que surgem, fazendo o seu melhor a cada momento.
No paradigma do comando e controle, as organizações procuram prever o melhor possível as possibilidades futuras (mesmo que quase nunca acertem!), fazem um planejamento detalhado com muita antecedência e depois despendem um esforço enorme para controlar que todos os seus integrantes estejam indo na direção almejada. Para que esse controle seja eficaz, a organização cria estruturas (departamentos) e aloca o tempo de muitas pessoas para funções de controle, deslocadas da atividade-fim. E isso, além de ser um desperdício de esforço, energia, tempo e dinheiro, gera pessoas insatisfeitas e frustadas, desconectadas do propósito maior, e aumenta o potencial de conflitos entre as pessoas.
Nas organizações pesquisadas por Laloux, as próprias pessoas que realizam as atividades-fim, são responsáveis também por muitas atividades-meio, reservando para isso uma parte do seu tempo de trabalho. E assim, se cria uma organização mais focada e enxuta, onde cada um está apto a perceber o futuro que emerge a cada momento, os desafios e demandas da realidade. E como todos estão imbuídos do mesmo propósito e são confiáveis, se sentem empoderados para responder da melhor maneira possível a partir de suas competências e de solicitar ajuda sempre que sentir necessidade.
Então, para que as organizações possam realizar seu propósito evolutivo de forma mais apropriada, é necessário criar uma atmosfera de confiança, onde as virtudes de cada um são valorizadas e as vulnerabilidades são compartilhadas, respeitadas e ajudadas. Criar um espaço que favoreça o autodesenvolvimento de cada um. É necessário também, desenvolver habilidades de relacionamento, onde cada um possa desenvolver a capacidade de escuta empática, de comunicação franca e respeitosa e de atuar com base nos fatos e não em suposições pessoais. É preciso ainda aprender a fazer reuniões produtivas e a fazer acordos e tomar decisões de forma colaborativa. É importante também definir, com clareza, quais são as atribuições de cada pessoa e de cada equipe.
A partir daí, cada membro da empresa estará mais capacitado e empoderado para perceber as necessidades que surgem e atuar na direção do propósito comum. Ou seja, dessa forma as organizações passam a atuar com uma verdadeira autogestão. Com todos colaborando com a empresa, mas a partir de um lugar de autonomia com responsabilidade. Criaremos assim, organizações que sabem aproveitar o potencial de cada um em prol dos objetivos do todo, que tomam decisões com mais agilidade, mas, ao mesmo tempo, respeitando e conciliando as vontades de cada um.
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