Liderança Colaborativa

No mundo complexo em que vivemos, a colaboração se faz cada vez mais necessária. Já não temos mais a ilusão de que conseguiremos resolver os problemas complexos que vivenciamos hoje, sem a colaboração de um grupo que nos permita olhar as situações por diversos ângulos e perspectivas e que possa contribuir numa construção coletiva de caminhos sustentáveis que promovam a vida em sua prosperidade e plenitude.

Neste caminho nos deparamos de cara com um grande desafio: como trabalharmos de forma colaborativa, levando em consideração as diferentes vozes, se cada pessoa tem percepções diferentes da realidade, diferentes ideias do que fazer, diferentes sentimentos e vontades? No grande potencial da colaboração (construir algo comum a partir das diferenças) reside o grande desafio: conciliar essas diferenças numa construção conjunta em que todas as pessoas se sintam contempladas.

Neste contexto, é urgente desenvolvermos habilidades de colaboração e de entendimento mútuo. Diante de tantos desafios urgentes, parece que estamos ainda engatinhando no caminho do trabalho colaborativo.

Para que o trabalho colaborativo aconteça a contento, é importante que todas as pessoas do grupo se sintam pertencentes e, para isso, é necessário que se sintam à vontade para trazerem suas percepções e suas ideias e que tenham espaço de autonomia para a execução de suas tarefas. Que se sintam tão pertencentes ao grupo e com autonomia, de maneira que cada pessoa se torna uma liderança na sua área de atuação. Assim, podemos dizer que num trabalho colaborativo adequado, num certo sentido, todas as pessoas são líderes!

Em uma estrutura na qual cada pessoa é líder na sua área de atuação, podemos imaginar também uma pessoa com o papel de liderança do todo, em que sua área de atuação é cuidar do todo! Mas porque é importante alguém cuidar do todo? Cuidar do todo não seria responsabilidade de todos?

Ter alguém com a responsabilidade de cuidar do todo não significa que as outras pessoas irão descuidar, mas significa que o grupo reconhece, em uma pessoa, as competências necessárias para estar atenta ao que acontece no todo, deixando cada outra pessoa livre para liderar em seu âmbito de atuação, se ocupando de suas tarefas específicas que também devem contribuir com o todo.

Temos então, até aqui, duas definições importantes para a liderança em um trabalho colaborativo: (1) todas as pessoas são líderes; (2) o grupo escolhe alguém para liderar o todo por reconhecer nela as competências para tal.

Mas, se colaborar é uma necessidade, liderar é uma arte! E, para que a arte da liderança promova a colaboração, é necessário entender quais são as principais atribuições da liderança colaborativa em um grupo. Reuni, com o acrônimo SEED, as 3 principais atuações da liderança colaborativa:

SEED da Liderança Colaborativa

1) Servir ao propósito:

Significa ter clareza do propósito comum, trazer uma visão inspiradora que ajude o grupo a manter o foco neste propósito. Na prática, isso implica em sempre trazer de novo o sentido e o propósito do que o grupo está fazendo junto, trazendo reflexões sobre como conectar as atividades diárias de cada pessoa ao propósito coletivo. Isso ajuda o grupo a manter o foco no que é mais importante, contribuindo para uma gestão do tempo mais eficaz.

Não devemos nos iludir do quão costumeiramente nos perdemos do nosso propósito comum e dedicamos muito tempo e esforço em coisas que não são tão importantes e que nos levam a muitos desentendimentos que poderiam ser evitados se tivéssemos o propósito comum mais presente em nossas consciências.

Conectar-se sempre de novo ao propósito é também zelar pelo resultado, pois se o propósito está ligado a necessidades reais no mundo e estamos trabalhando na direção dele, o resultado se torna uma consequência deste trabalho com propósito.

2) Envolver e Engajar as pessoas no trabalho colaborativo:

Significa buscar caminhos de participação de todos, abrir espaços de escuta, contribuindo assim para que as decisões sejam tomadas com mais equivalência na consideração aos diferentes pontos de vista e às diferentes vozes.

Não devemos nos iludir do quão difícil é realmente abrirmos espaço para escutarmos e considerarmos ideias diferentes das nossas por nos perdermos em nosso orgulho e vaidade.

Envolver e engajar, significa também criar um ambiente seguro onde todas as pessoas se sintam a vontade para falarem o que julgarem importante, sabendo que serão consideradas e levadas a sério e que não serão menosprezadas nem retaliadas.

3) Desenvolver autonomia:

Significa estar atento ao processo de desenvolvimento do grupo, em que cada pessoa possa desenvolver as competências necessárias para lidarem a contento com seus desafios e para poderem liderar, cada uma em sua área de atuação.

Desenvolver autonomia, significa também criar um ambiente de desenvolvimento mútuo, em que cada pessoa tem um espaço seguro de autodesenvolvimento, para reconhecer e aceitar o que precisa mudar em si, para poder atuar com mais autonomia e responsabilidade.

Olhando agora para essas 3 grandes frentes de atuação do SEED, podemos reconhecer a importância do grupo escolher uma pessoa para cuidar de trazer consciência desses aspectos no dia a dia do trabalho conjunto.

Mas de que instrumentos a liderança colaborativa pode dispor para dar conta destas tarefas?

Uma habilidade fundamental para uma liderança colaborativa é a capacidade de criar espaços seguros de conversa e escutar com empatia. Nesse sentido, o principal instrumento da liderança colaborativa são as conversas, e existem 3 tipos de conversas fundamentais para a liderança e 2 portais que precisam ser cuidados com atenção.

Os 2 portais são a entrada e a saída de uma pessoa do grupo. Quantas vezes negligenciamos o cuidado de receber uma pessoa nova no grupo, ambientá-la ao novo contexto, promovendo o conhecimento mútuo? E o quanto cuidamos da saída de uma pessoa?

Muitas vezes as pessoas novas que chegam se sentem perdidas e desamparadas, com medo, sem saber por onde caminhar. E as pessoas que saem, muitas vezes saem carregadas de ressentimentos, raiva e tristeza.

Por isso, é muito importante que a liderança crie processos saudáveis para lidar com esses 2 portais. E processos saudáveis de relações se sustentam com boas conversas, compreensivas, francas e respeitosas.

E os 3 tipos de conversa, que podemos também chamar de os 3 processos de conversa que trazem saúde ao trabalho colaborativo são:

Os 2 portais e os 3 tipos de conversa

1) Conversas de conhecer:

Significa criar espaços de conversa para que as pessoas possam se conhecer mutuamente como realmente são. Criar espaços seguros, onde cada pessoa se sinta confortável para falar de si, para se mostrar em suas vulnerabilidades, em suas luzes e suas sombras.

2) Conversas de combinar e alinhar:

Significa criar espaços de conversa para:

. alinhamentos sobre papéis, responsabilidades, tarefas, desafios e dificuldades;

. criação de acordos, políticas e combinados no grupo;

. tomadas de decisão sobre o futuro que queremos construir juntos.

3) Conversas de desenvolvimento:

Significa criar espaços de conversa que promovam o desenvolvimento de competências, de motivação, de relacionamentos saudáveis e de vínculos de confiança, por meio de feedbacks, avaliações e aconselhamentos que promovam o desenvolvimento mútuo.

Assim temos que a liderança colaborativa deve se ocupar em criar processos para esses 3 tipos de conversa (conversas de conhecer, conversas de combinar e alinhar e conversas de desenvolvimento) e para esses 2 portais (portal de entrada e portal de saída), criando assim um ambiente seguro onde todas as pessoas se sintam a vontade em seu trabalho.

Dessa maneira, a atuação da liderança se torna uma semente que brota e germina na direção de um trabalho colaborativo saudável, em que cada pessoa possa se desenvolver como líder em sua área de atuação, apta a atuar com mais autonomia e responsabilidade e em se envolver e engajar no trabalho colaborativo, com foco e conexão no cumprimento do propósito maior da organização.