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Foto do escritorRoberto Dertoni

Jogo da Economia

Ganhar mercado, aumentar os lucros e o faturamento, superar os competidores... Essas são, de uma maneira geral, as metas das empresas no jogo da sobrevivência econômica.


Pessoas talentosas dedicam suas vidas a elaborar maneiras engenhosas (gestão) de atingir essas metas, como que fazendo novas regras para o jogo do vencedor-perdedor. E a gestão deve evoluir constantemente, pois assim que uma nova forma de gestão se institui e todas as empresas passam a segui-la, já é hora de inovar de novo para, mais uma vez, sair à frente da concorrência.


Outras tantas pessoas, também talentosas, se dedicam a seguir as regras a risca, com a missão (pressão) de atingir as metas e não saírem perdedores.


Deste ponto de vista, pode-se dizer que a vida econômica se transformou num jogo que envolve nossas vidas quase por inteiro. Um jogo em que cada um de nós é uma peça, não importando se operacionais, táticas ou estratégicas, mas somos todos peças a serem posicionadas no tabuleiro.


É um jogo não só da vida econômica, mas a vida política joga junto e ajuda na elaboração e na execução das regras, através de políticas nacionais e internacionais. E aos poucos vão conseguindo envolver também a vida cultural neste grande jogo da vida. Escolas que possam produzir trabalhadores (jogadores) mais eficientes em menos tempo e que se encaixem exatamente nas novas necessidades que as formas de gestão e a tecnologia fazem surgir; hospitais que possam reabilitá-los no tempo de um pit stop e entretenimento que possam mantê-los distraídos da verdadeira realidade da vida e acreditando na única realidade do jogo.


O egoísmo, com sua gana por poder e dinheiro, é o principal alimento. E os acordos, parcerias e alianças estratégicas são efetuados com o foco no interesse próprio de cada uma das partes e duram enquanto este interesse próprio coincidir mutuamente.

Esta luta por constante melhoria, têm trazido também coisas positivas, como por exemplo a qualidade total que têm levado à uma melhoria na qualidade dos processos de uma maneira geral, mas têm levado também à uma padronização exagerada no atendimento ao cliente, que acaba focando na massificação do consumo e não nas necessidades individuais dos clientes.


E o que este grande jogo mundial têm produzido? Um número cada vez maior de excluídos e desajustados! Mas estes são apenas a maioria perdedora e não deveria incomodar os que compõem a minoria e que ainda continuam jogando para se saírem vencedores.

Mas o que se pode fazer para mudar este mecanismo perverso?

Uma coisa parece certa, tem que se atuar na vida econômica para, a partir de dentro do problema, começar a transformação.


Uma possibilidade seria aproveitar a própria onda de transformações que ocorre nas empresas para fazer surgir algo de realmente novo. E uma nova onda que está surgindo é a da responsabilidade social. A realidade social à nossa volta é tão cruel que está levando a um despertar pelas questões ditas sociais. E as empresas estão querendo capitalizar para si esse interesse novo e estão desenvolvendo estratégias que as identifiquem como responsáveis socialmente.


Uma tendência é de que se criem selos de empresa cidadã ou de empresa socialmente responsável, assim como existem os selos de qualidade. E aqui existe uma possibilidade de introduzir mudanças positivas reais na cultura das empresas.


O problema não é que as empresas são as grandes vilãs do nosso tempo, mas sim que o egoísmo arraigado em cada um de nós permitiu que se criasse um mecanismo social do qual isoladamente não conseguimos mais sair. Na verdade, muitos empresários e trabalhadores gostariam que a realidade fosse outra, mas não conseguem mudar o mecanismo por medo de serem os próximos excluídos.


Mas esta nova onda da empresa cidadã pode ser uma nova oportunidade para se trabalhar nas empresas. E este trabalho deveria ser no intuito de abrir espaço para que cada um na empresa possa ser ouvido. Para começar a ser uma empresa cidadã, nada mais correto que incentivar os próprios colaboradores a se tornarem cidadãos dentro da empresa, por meio de políticas de gestão participativa.


Assim, talvez, possa ser encontrado um caminho que impulsione uma verdadeira mudança social. Uma vez que cada trabalhador cidadão passe a ter voz mais ativa, as peças do jogo passam a ganhar mais autonomia e a gerar maiores mudanças no andamento do jogo.


É claro que, muitos dos que estão em posições chave dentro do jogo (peças estratégicas), inicialmente irão temer essa maior participação de todos e suas conseqüentes mudanças. Para isso, será necessário uma estratégia de mostrar à essas peças chaves (pelo menos as mais sensíveis), os verdadeiros benefícios para a empresa, da gestão participativa.


Um colaborador envolvido com a missão e os objetivos da empresa, é uma pessoa mais responsável e mais comprometida com a empresa como um todo e o que se percebe, em termos financeiros, é uma redução de custos com desperdícios e um aumento de produtividade. Mas os benefícios vão além dos financeiros, pois ganha-se companheiros responsáveis e inseridos de forma viva, na vida da empresa. Isso gera maior satisfação no trabalho, maior qualidade de vida e um ambiente de trabalho mais limpo e respeitoso.


A partir daí, um próximo passo seria passar a enxergar as outras empresas (clientes, fornecedores e até mesmo concorrentes) como verdadeiras parceiras-cidadãs. Isso significa passar a olhar as necessidades da outra empresa com respeito e interesse e firmar acordos em que se leve em conta, em igual medida, as necessidades e capacidades de cada lado.


Ser cidadão significa participar ativamente dos contextos sociais em que se está inserido, mas significa também dar espaço para a participação ativa dos outros agentes sociais, quer sejam empresas privadas, governo ou pessoas físicas. E isso exige interesse e respeito pelas particularidades de cada um.


A mudança social passa por uma atuação nas três grandes áreas da vida social Estamos no limiar de um novo milênio. Estamos vivendo um importante momento histórico, em que as economias do hemisfério sul encontram-se a beira de um colapso; apesar de toda a riqueza, o conforto e o avanço tecnológico alcançado pelos povos mais ricos, o número de pobres e indigentes continua inaceitável e a fenda da distribuição de riqueza (distância entre ricos e pobres) continua aumentando; o poder das grandes corporações está subjugando o poder dos Estados e pervertendo a cultura com interesses puramente econômicos.


Mas existe aqui uma grande oportunidade de mudança, com a força crescente do chamado Terceiro Setor e da instituição das empresas cidadãs. No entanto para se aproveitar positivamente desta oportunidade e não deixar que acabe se tornando apenas mais uma passagem emocionante deste grande jogo do vencedor-perdedor, é necessário que se conjugue esforços nas três grandes áreas da vida social.


A atuação deverá ser através da esfera econômica. São as empresas que estão dando as cartas do jogo e, me parece, que a mudança deverá vir a partir delas. Mas a luta deverá ser a do resgate da participação ativa de cada um, a luta da cidadania, pois somente cidadãos autônomos podem levar a uma mudança social descompromissada. Só quando formos capazes de nos sentirmos verdadeiramente iguais aos outros é que poderemos confiar na mudança que cada um pode proporcionar. E por fim, essas mudanças precisam estar respaldadas num conhecimento genuíno da realidade social. Será necessário que os conceitos e idéias advindas da observação objetiva da realidade social encontrem a linguagem adequada para serem transmitidas, quer seja na forma de palestras e aulas práticas e conceituais, quer seja nas mais variadas formas de arte.

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