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Foto do escritorRoberto Dertoni

Uma Nova Economia

O motivo da existência de toda atividade econômica reside no fato de que, para podermos viver na Terra, necessitamos consumir bens materiais. Tanto para a sobrevivência física (alimentos, roupas, moradia, etc.), como para a anímica e espiritual (livros, material para prática de artes, instrumentos musicais, etc.), precisamos consumir produtos feitos com matérias primas extraídas da Terra.


Ora, para que possamos consumir todos estes produtos, primeiro precisamos produzi-los. Enquanto a humanidade vivia num tempo em que as famílias produziam tudo o que consumiam, a economia ainda não existia como tal. Era ainda uma economia caseira, natural. Deste modo a vida era ainda primitiva, pois todos tinham que trabalhar muito e ainda assim a produção era precária. Vivia-se sem nenhum conforto.


Foi quando se começou a consumir produtos de outros e a se produzir para outros – o que inicialmente se resolvia com um sistema de trocas – é que começou a surgir o comércio e o comerciante. Assim se estabeleceram os primórdios da economia com sua tríade produção – comércio - consumo, como conhecemos até hoje.


A economia tem evoluído ao longo do tempo à medida que tem ido em busca de dois grandes desafios: o primeiro, consiste em que sejam produzidos bens necessários para que TODOS os seres humanos tenham suas necessidades materiais básicas supridas, de modo que possam viver com dignidade.


Com o desenvolvimento da economia, principalmente com o advento da Revolução Industrial e com a tecnologia disponível hoje, já é possível produzir o suficiente para todos, mas vivemos numa situação em que a maioria dos seres humanos ainda vive em condições muito precárias. Este fato traz à tona um dos principais problemas sociais do mundo, o da distribuição. O problema já não é mais de produção, mas sim de distribuição. Hoje, apesar da produção ser suficiente, somente uma pequena parcela da humanidade tem direito a uma vida digna, e em alguns casos até esbanjadora.


O segundo grande desafio, que apenas no último terço do século XX começou a ganhar a consciência dos povos, é de que os recursos naturais – se não manejados de forma consciente e ecológica – se esgotarão em poucas décadas, levando a esgotar as possibilidades de vida na Terra. Ou seja, o direito de uso, a exploração e a conservação dos recursos naturais são do interesse de TODOS, e todos deveriam ser levados em conta na definição de políticas para esta área.


Mas o que se vê hoje na economia é que interesses pessoais ou de grupos prevalecem e fazem com que a concentração de renda e a devastação da Natureza sigam em frente. Na base destes problemas encontramos uma característica humana que está arraigada em todos nós: o egoísmo. O desenvolvimento da humanidade tem sido também o desenvolvimento da individualidade. Se quisermos encontrar soluções para a economia e para a questão social como um todo, temos que levar em consideração que o egoísmo é uma força que atua fortemente em todos nós.


No âmbito do consumo, o indivíduo é necessariamente egoísta, pois precisa pensar em sua própria sobrevivência. A economia industrial já provou que se não produzimos para nosso próprio consumo, mas para os outros (divisão do trabalho), conseguimos aumentar bastante a produção e reduzir drasticamente os custos (hoje compramos uma lâmpada por um preço equivalente a alguns minutos de nosso trabalho).


Nos preocupamos com nosso próprio consumo, mas produzimos para o consumo alheio. A economia de escala nos faz trabalhar para os outros, mas a necessidade de sobrevivência (e o egoísmo decorrente dela) nos faz pensar em nós próprios. Aqui se encontra o grande impasse que está na origem de nossos maiores problemas sociais. Para sairmos desse impasse, precisamos começar por compreender dois aspectos fundamentais:


Primeiro: para que TODOS possam viver dignamente na Terra, é necessário que nossa consciência individual se volte para o TODO. Precisamos reconhecer que as coisas só vão melhorar de maneira geral, se procurarmos soluções que abranjam todos os envolvidos.


Segundo: para sanar os efeitos sociais nocivos do egoísmo na economia, é necessário que ela esteja sob o controle da sociedade. Hoje não há controle humano sobre a economia, ela tem vida própria e age como um ser que segue suas próprias direções que nem sempre são do interesse de toda a sociedade. Não defendo aqui o controle estatal da economia - que pode levar à ineficiência - mas que a economia não deve passar de seus limites e que siga uma direção desejada pela sociedade.


Hoje nos deparamos com a Globalização e a chamada Nova Economia, que têm, por meio da tecnologia, levado à ganhos enormes de produtividade. O problema aqui não é a tecnologia em si, mas, mais uma vez, o próprio mecanismo egoísta da economia, que usa os avanços tecnológicos para concentrar mais poder e mais dinheiro com uma velocidade enorme.


Ou seja, o grande problema do mundo de hoje é esta atuação egoísta na economia, que domina toda a vida social e leva muitos povos à miséria e penúria e o próprio planeta à um estado ecológico calamitoso.


Mas a origem destes problemas não é puramente econômica. A origem talvez esteja na grande concentração de poder (propriedades, capital) permitida naturalmente em nossa sociedade, que faz com que não haja igualdade de direitos entre nós. E esta estrutura social de desigualdade de direitos e de poder é que possibilita os abusos da dominação econômica.


Portanto, para que possa se desenvolver uma economia mais solidária e saudável é necessário que se desenvolva primeiro um sentimento de cidadania entre os povos, um sentimento de que todos, independente de nação, raça, religião ou cultura temos iguais direitos de vida na Terra. E assim, como cidadãos livres e iguais poderemos começar por colocar a economia a serviço de todos nós.


Mas para alcançarmos meta tão distante, precisamos começar pelos primeiros passos. E talvez os primeiros passos agora sejam de começarmos a atuar com mais consciência no nosso meio social. Integrar-nos na cultura de nossa cidade, de nosso estado, de nosso país; começarmos a nos interessar mais por nossas instituições sociais, cobrando dos representantes políticos, mas também fazendo nossa parte em trabalhos associativos e comunitários; e apoiarmos o surgimento e o fortalecimento de associações econômicas, onde tanto os representantes dos produtores, dos comerciantes e dos consumidores possam tomar decisões conjuntas visando o interesse do todo.


E assim, aos poucos, estaremos começando a mudar o mundo - na medida de nossos pequenos passos - em direção a uma Nova Economia, que não seja esta guiada pelo egoísmo e impulsionada pela tecnologia, mas sim que seja uma Nova Economia guiada pelo sentimento comum de humanidade.

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