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Despedida

Beto Dertoni

A vida humana é uma dádiva.
Nascemos, crescemos, aprendemos, vivemos,
sofremos, amamos, nos encantamos, desanimamos …

Cada um carrega consigo seu próprio mistério.
E o mistério de cada um é sempre inatingível.
Qual o propósito de uma determinada pessoa existir?

Existirmos, a que será que se destina?

Ganhamos a vida de nossa mãe.
Mãe, a origem de tudo,
a permissão para tudo o que possa existir!

Nossa mãe é um céu que nos permite existir na terra.
Ela recebe a semente, fertiliza, e de si faz brotar a nova vida,
a dádiva, o mistério, a existência, o inatingível,
faz girar a roda do destino.

Vida, mãe, vida,
sinônimos de amor.
O amor que é dor, que é amor,
sacrifício.

Existimos graças a uma graça,
que surgiu do prazer da dor, do sacrifício,
do amor.

Quem é nossa mãe?
Como saber tamanha ciência?
Como ela amou?
Quais foram seus prazeres, seus sofrimentos, sua dor?

Mãe guarda muito em si,
guarda todo o mistério da existência,
da essência mesmo de viver!

O quanto olhamos para ela?
O quanto a aceitamos, a acolhemos, a amamos, honramos quem ela foi?
Com todos seus possíveis acertos e erros, virtudes e defeitos?
Quem somos nós, frutos de tudo isso?

Um dia a vida acaba,
termina ali naquela curva do caminho...

Nunca mais ver a mãe?
Nunca mais olhar aquele olhar onde cabe tudo?
Nunca mais ver onde tinha o colo, o aconchego, o carinho, a origem de tudo?

Precisamos honrar nossa mãe,
até mesmo como condição para sermos plenamente quem somos.
E quando ela se vai, passarinho já voou!
Despedida.

Despedir é dizer adeus para alguém que não veremos mais.
Ficou naquela curva do caminho...

Despedir de verdade é deixar ir.
É chorar pela não volta,
é gritar toda a dor.

É deixar escorrer a lágrima.
E da lágrima verdadeira fica a semente.

Despedir é levar consigo a semente que ficou.
Plantar em algum lugar,
acalentar, cuidar, cultivar, deixar brotar,
aprimoramento da espécie!

Da dor da despedida,
quando chorada,
nasce o novo amanhã,
seguindo órfão de mãe.

Da dor no coração
brota nova vida nos filhos que trazemos em nós.

Vida que se vai,
vida nova que nasce em mim,
assim segue o ciclo da vida, de toda criação:
Amor!

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